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domingo, 11 de dezembro de 2011

História adulterada

   
(carta enviada ao 'Fale conosco' do jornal O Globo, em 11 de dezembro de 2011)

Como torcedor do Flamengo, carioca e Profissional de Comunicação Social, acho repudiável a decisão do Globo de adulterar - esse é o termo - o conteúdo do encarte 'O Globo Esportivo' comemorativo da conquista do Mundial de Clubes de 1981, com o intuito de esconder a publicidade da época. O jornal, tal como foi editado, é um documento e a mudança pode ser inclusive tipificada como falsidade ideológica (tipo de fraude criminosa que consiste na adulteração de documento, público ou particular, com o fito de obter vantagem - para si ou para outrem - ou mesmo para prejudicar terceiro), definida pelo artigo 299 do Código Penal.

Muitas das propagandas veiculadas dizem respeito ao feito e ajudam a contar a história de uma época. Uma pena que a imprensa tenha passado a usar desse expediente, nesses tempos que se pretendem 'politicamente corretos'. Borram-se logomarcas de lojas e até etiquetas de roupas de entrevistados, a título de não fazer propaganda gratuita de uma determinada marca. Esse exagero vem atingindo os limites mais idiotas e contribuindo para a desacreditação do que o jornalismo informa.

Dá para lembrar a famosa frase de Luís Fernando Veríssimo, cunhada em outro contexto, mas que torna-se perfeita para ilustrar situações assim. 'Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data', pontificou nosso grande escritor.

E O Globo, o que faz como contribuição ao futuro: escreve a História conforme ela acontece de verdade, ou segundo seus interesses particulares, travestindo a defesa de seus pontos de vista como 'política editorial'?

 

Boas Tardes.

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ConCidadão
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sábado, 24 de setembro de 2011

Fracasso em alto e bom som: Fetranspor e Prefeitura desafinam geral no planejamento de mobilidade para o Rock in Rio

  
Os portadores de bilhetes de 'primeira classe', vendidos pela Fetranspor a R$ 35 (ida e volta) para transporte diferenciado à Cidade do Rock acusam a federação - que congrega os dez sindicatos das empresas de ônibus no âmbito do Estado do Rio - de quebra de contrato. Nesta sexta 23, estreia do Rock in Rio, os ônibus que fazem esse serviço, que deveriam transportar somente os passageiros que compraram previamente os bilhetes, passaram também a vender passagens na hora, a R$ 20, para o trajeto de ida. Esses passageiros extras 'foram autorizados pela Fetranspor a viajar em pé', conforme relata O Globo Online, o que é proibido nos frescões, de acordo com o regulamento de transportes coletivos da Prefeitura.

Segundo uma passageira denunciou ao jornal, o percurso de algumas linhas foi alterado, com o objetivo de embarcar mais passageiros. Alguns transtornos chegaram a ser registrados nas longas filas de embarque. A Fetranspor, por sua vez, escuda-se no argumento da grande demanda registrada neste primeiro dia de festival, além dos engarrafamentos que impediriam o retorno rápido dos ônibus para mais viagens. A entidade revelou que fará uma reunião na manhã deste sábado, para estudar uma solução para o problema.

O publicitário Carlos Mayrink é mais um dos passageiros indignados com esse desrespeito ao usuário. Além de relatar o fato pelo chat do portal da Fetranspor e escrever ao jornal O Globo a respeito, ele está ampliando sua denúncia através das redes sociais. E conclama outros usuários a 'botar a boca no trombone', engrossando o rol de reclamações.

Os dias de ontem - quinta 22, 'Dia Mundial sem Carro' - e hoje, primeiro do Rock in Rio, são emblemáticos para nos lembrar de que esta é uma cidade sem transporte coletivo decente. O metrô é incipiente em sua área de abrangência; e o trem, embora geograficamente bem disperso sobre a malha urbana, não atende satisfatoriamente. Resta a 'solução' em que se vem teimando há décadas, mas que não mereceu, no Rio, a evolução alcançada no mundo inteiro: o ônibus. Continuam a ser obsoletos, desconfortáveis e inadequados, prestando um péssimo serviço à população e parecendo cumprir apenas o papel de enricar operadores argentários e agentes públicos desonestos.

O usuário do sistema de transporte público por ônibus do Rio de Janeiro deixou de ser 'passageiro' para ganhar outra denominação, em virtude da dependência do serviço e do tratamento que recebe das empresas: refém.

Enquanto isso, a interdição de vias públicas - avenidas Embaixador Abelardo Bueno e Salvador Allende - em prol da realização de um evento privado, pago, sem benefício direto para quem é atingido pelas restrições de acesso, demonstra o despreparo do Poder Público e faz o cidadão temer pela sua liberdade de ir e vir. Por que não planejar um esquema decente de circulação nesses locais, incluindo engenharia de tráfego e transporte público (coletivos e táxis) e reforçando dignamente a fiscalização de trânsito, em vez de simplesmente fechar as portas das casas de quem nada tem com o festival?

Para a Copa e os Jogos Olímpicos, nos resta, assim, ir de BRS e de BRT, o velho sistema que os marqueteiros do Transporte vêm maquiando para vender como ideia nova.

Eles vendem. O pior é que a gente compra.


Boas Noites!

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ConCidadão
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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A palavra é...


Vivemos hoje em dia, com cada vez maior intensidade, a praga do terminologismo. Esse vocábulo, que por sua vez é um neologismo, uma palavra nova cunhada por mim mesmo, significa a mania de se inventarem palavras ou expressões novas para expressar conceitos que já estão consolidados na mente de todos, com termos já tradicionais e de compreensão muito melhor. É uma espécie de reinvenção da roda, poucas vezes com respaldo realmente técnico, mais para a satisfação da vaidade dos inventores.

Por exemplo: quando eu era criança (mesmo sendo isso no século passado, não faz tanto tempo assim), algumas das outras crianças, que eram pobres, eram simplesmente crianças pobres. Simples, não? Pois agora são menores carentes, uma designação aparentemente mais técnica, embora também pobre de humanidade, no sentido da compaixão que a condição naturalmente desperta. Juizado de Menores, aliás, virou Juízo da Infância e da Adolescência, data venia, uma desnecessidade absoluta: infantes (crianças) e adolescentes são os únicos possíveis subconjuntos de 'menores' e desmembrar torna-se inútil. Ademais, verdade que são duas raças que não têm 'juízo' mesmo...

A propósito dos pobres, ainda, as pessoas na situação de pobreza são agora redefinidas pelo terminologismo da linguagem oficial do Serviço Público como hipossuficientes. A eles, talvez seja menos ofensivo serem chamados, apenas, de pobres. Como no passado. Ofensa, aliás, também passou a ser chamar favela por esse seu nome específico e bem definido. O politicamente correto (ai, minha Santa Paciência, lá vem ele!) é comunidade, palavrinha tão tomada de assalto para esse significado alternativo, a ponto de as pessoas evitarem o termo quando se referem a outras comunidades – como a do condomínio, a da rua, a do trabalho, a do clube – com receio de uma interpretação errada: a de que pertencer a uma comunidade torna o sujeito um favelado.

Registre-se que eu nem dou mais orelhas – a moderna nomenclatura médica aboliu os ouvidos – quando o que querem mudar são as partes do meu corpo. Não aceito que me modifiquem contra a vontade. Mas prefiro ficar por aqui, nesse mérito.

E para encerrar a questão, lembro que, quando não são os aspectos político ou técnico da coisa, é a pomba do marketing que cria esse tipo de monstro terminologista. Hoje em dia, no supermercado, não se compram mais detergente nem sabão em pó: só lava-louças (que, afinal, também é lava-panelas, lava-talheres e lava-tantas-outras-coisas-também) e lava-roupas. Com essa mania das locuções verbais, prefiro nem imaginar como os gênios da mercadologia haverão de chamar 'sabonete íntimo', daqui a alguns anos...

Então, que tal descomplicar, para falar um bom Português?


Boas Tardes!

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ConCidadão
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