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quinta-feira, 11 de julho de 2013

Vem aí mais um campeão de audiência

  
Crítico de arte é tipicamente um sujeito que julga conhecer do assunto mais do que todo mundo. E também tem o costume de subverter a lógica das coisas: desce o sarrafo naquilo que é bom e se rasga em elogios pelo que não presta.

Patrícia Kogut, no Globo desta quinta 11, para não fugir à regra, critica o humorístico Vai que Cola, a estreia da semana do Multishow. Diz que o programa poderia aproveitar melhor o elenco - que ela diz ser muito bom - e as situações caricaturadas na pensão do Méier; e que o formato repete fórmulas já usadas, como Zorra Total, Sai de Baixo e Balança Mas Não Cai. No final do texto, exalta 'Viva o Gordo!', outro programa de anos atrás, em que Jô Soares nos brindava com tipos impagáveis.

Sugere-se que a remissão a fórmulas empregadas no passado seja demeritória, embora isso não esteja escrito. Ao contrário: o que talvez ela não enxergue é que o público parece estar ávido por esse tipo de humor, saudável, inteligente e, sobretudo, agradável. Porque o que se apresenta hoje em dia na televisão está longe de ser cômico. Desde quando 'humoristas' submeterem celebridades ou pobres mortais a situações vexatórias ou de perigo, normalmente sem graça alguma, é humor? Será que a audiência desses 'humorísticos' é tão frágil que torna-se imprescindível recorrer ao surrado expediente das mulheres seminuas em cena, seja como bibelôs (indiscutivelmente lindas, é inegável), ou como personagens de esquetes doentios, como aquele protagonizado pelo intelectualóide Gerald Thomas, bolinando Nicole Bahls numa livraria? (Aliás, como se ele apreciasse a fruta...)

Verdade seja dita: os últimos remanescentes do humor palatável na televisão, embora eu em particular não curtisse a maioria das coisas que eles faziam, eram mesmo os Cassetas. Eles eram atuais, sagazes e sabiam pôr o 'popular' (pessoa que passa na rua) como coadjuvante digno, que ria, com todos à sua volta, da piada da qual era convidado (ou à qual era induzido) a participar. O riso, a partir das cenas, nos era sincero e gostoso. Que graça tem, digam-me, submeter um idiota a colocar o dedo numa panela de fondue com queijo a borbulhar, a título de 'prova' de qualquer coisa? Dia desses vi essa cena, por acaso, numa reprise do tal Pânico, num ônibus da vida. Quase não acreditei.

Fato é que o Vai que Cola me agradou em cheio e acho que multiplicou esse efeito pelas pessoas que apreciam o verdadeiro humor, bem feito, na dose certa. Situações cotidianas em que cada um de nós certamente, em algum momento, já se viu, transpostas para um universo teatral em que o exagero que lhe é próprio diverte com extrema leveza. Vale a pena assistir: de segunda a sexta, às 22:30 horas, no Multishow (canais 42 e 542 [HD], na NET), com reprise dos cinco episódios da semana (cada um com cerca de 40 minutos de duração) aos domingos, a partir das 7 da noite.

A propósito: experimentem ver programas antigos do Viva o Gordo, Toma Lá Dá Cá, Escolinha do Professor Raimundo, Balança Mas Não Cai e, indo mais longe ainda pelas ondas do rádio, ouvir o PRK-30. Quero ver alguém conseguir segurar o riso por mais do que alguns segundos.