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quinta-feira, 18 de junho de 2009

Oba! Somos todos jornalistas

  
O Supremo Tribunal Federal derrubou ontem, por 7 votos a um, a obrigatoriedade do diploma de curso universitário para o ofício de jornalista. Segundo os ministros relatores favoráveis à extinção, a exigência seria inconstitucional – mais do que ilegal – por ferir o preceito da liberdade de expressão previsto no inciso IX do artigo 5º da Carta Magna brasileira, que diz ser 'livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença'. Pois é exatamente dentro deste mesmo preceito que comento aqui a notícia.

Na opinião dos magistrados, o exercício do jornalismo basicamente não exigiria muito mais do que o pendor para a escrita, tal como acontece com aqueles que querem ser escritores, tendo sido lembrados inclusive diversos deles atuantes como jornalistas. Foi dito que a formação universitária deveria restringir-se a atividades cujo desempeho requeresse conhecimentos técnicos de maior peso, nitidamente o caso da Medicina. Falou-se dos casos de países onde a faculdade de Jornalismo não é exigida (EUA entre eles), sem a percepção de que apenas os bons exemplos a gente deve copiar. E, de quebra, na prática, a corte suprema acabou estabelecendo uma perniciosa associação entre a revogação da Lei de Imprensa (bem vista pelo meio) e a queda da obrigatoriedade do certificado de curso superior (pelo contrário), eventos jurídicos recentes que remetem a dois fatos da época dos governos militares pós-1964 – um fantasma que vem sendo recorrentemente avistado.

Contudo, a supressão da exigência do curso superior constitui uma involução. Há 40 anos a formação universitária em Jornalismo existe e tem por objetivo talhar profissionais qualificados. A universidade nos abre horizontes no espírito; os magistrados bem podem testemuhar isso, já que viveram para contar. Hoje em dia, outras profissões estão deixando a formação de nível técnico e buscando aperfeiçoameto em cursos de nível superior, como são os casos do Técnico em Transações Imobiliárias (a faculdade dos corretores de imóveis) e do Turismólogo. É a busca pelo melhor exercício da profissão. E o Jornalismo começa a dar marcha-a-ré, graças à providência do STF.

Em tempos de blogues, smartphones, YouTube e outras formas de expressão tão rápidas quanto eficazes, ninguém precisa ser mesmo jornalista para manifestar-se como cidadão. Basta ter vontade para fazer-se ler, ouvir e ver. Mas então, por que minar a importâcia do trabalho especificamente jornalístico já consagrado, privando a classe do respeito profissional com a punga de sua conquista? Abrir o mercado do Jornalismo a qualquer pessoa não aumenta nem restabelece a liberdade de expressão: ela está aí, sendo exercida por todos. Inclusive por mim, nesta coluna.

A própria imprensa não se manifestou de modo mais intenso a respeito, pelo que eu pude perceber dos noticiários afins. Críticas e repúdio ao fato, é claro, mas nada espalhafatoso demais. A ABI pronunciou-se em sua página eletrônica, incluindo mensagem do presidente da entidade na qual ele manifesta a esperança de que o Poder Legislativo restabeleça a condição anterior. As empresas jornalísticas, por sua vez e segundo a análise de especialistas, devem manter a opção de contratar profissionais diplomados, tendo nisso um óbvio critério seletivo. O que é natural.

Aliás, a atividade na mídia jornalística nunca esteve restrita a jornalistas: sempre houve os colaboradores, comentaristas, analistas e outros tantos, profissionais das mais diversas searas que não respiram a redação em tempo integral mas fazem seu excelente trabalho. Complemetar e enriquecedor; jamais coadjuvante. E talvez nisso resida a brecha que culminou com a derrubada do diploma: o excesso de personalidades súbitas, de apresetação estética irrepreensível porém de bagagem intelectual nem tanto, que, de repente, estão na televisão e no rádio, apresentando programas de cunho eminentemente jornalístico. Dirão, pois, o telespectador e o ouvinte: desse jeito, qualquer um pode ser jornalista!

É. Agora, pode.


Bons Dias!

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ConCidadão
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segunda-feira, 1 de junho de 2009

Mais do que um minuto de silêncio

  
Acabou. Pontualmente à meia noite, apenas alguns minutos atrás, a rádio Antena 1 do Rio de Janeiro (103,7 MHz), saiu do ar pela derradeira vez. Há muito tempo, a maioria das emissoras saía do ar na alta madrugada, entre as 2 e as 6 horas da manhã. Depois, passaram quase todas a transmitir 24 horas, sem locução nesse período. Mas hoje, a Antena 1 estava marcada para mais do que simplesmente sair do ar: para o desalento de uma expressiva legião de cariocas de bom gosto musical, ela infelizmente morreu. O FM carioca ficou mais pobre, bem mais pobre, neste também último dia de maio, um domingo.

Na última sequência de músicas, K-Jee (MFSB), I love America (Patrick Juvet), Dancing Days (Frenéticas) e Stars on 45 (Beatles, long version), que encerrou as transmissões. Sobre uma vinheta da emissora, em seguida, a locutora Nayara Alves falou do coração batendo mais forte e da magia de 28 anos no ar, ao agradecer a ouvintes mundo afora, que mandaram mensagens e telefonemas relacionados ao fim das atividades da rádio. E informou que a Antena 1 Rio permanece no ar, porém somente na rede mundial de computadores.

Engraçado como uma concessão do governo federal pode transitar tão livremente assim, duma forma meramente comercial. Sim, porque canais de rádio não se abrem ao bel-prazer de alguém; são outorgados pelo Ministério das Comunicações, segundo critérios que deveriam ser técnicos. Pode parecer até a defesa de certa censura aos estilos das emissoras, mas é apenas um desabafo contra a violenta tomada de mercado por rádios cada vez piores, em termos de qualidade de programação. Não se pode negociar uma emissora como se passa adiante uma barraca de cachorro quente. Uma rádio envolve aspectos importantes, seja pela produção envolvida - rádios ditam moda e são veículos divulgadores e propulsores de músicas, artistas e atividades culturais - seja pelas pessoas que vivem diretamente de mantê-la no ar.

A frequência de 103,7 MHz está sendo assumida pela Nativa, que deixa a vaga nos 96,5 MHz - da saudosa Tupi FM, 'estéreo espetacular' - para o que os Diários Associados estão chamando de 'uma revolução no rádio carioca': a Super Rádio Tupi, tradicional emissora AM (1280 kHz), passa a contar com retransmissão também em FM, nos 96,5 MHz, a exemplo do que já faz, no Rio, a CBN (860 kHz e 92,5 MHz, que um dia já foram, respectivamente, a Rádio Mundial e a Globo FM, todas do Sistema Globo).

Com o fim da Antena 1, ganham a JB FM (99,7 MHz), líder atual do segmento adulto carioca e que, prevê-se, deve se beneficiar para consolidar a posição, e a Paradiso (95,7 MHz), as últimas FMs que mantêm esse estilo musical. Os únicos baluartes que ainda nos restam, nós de entre 30 e muitos e 50 e poucos anos, de adolescência e juventude vividas ao som das discotecas, reverberado pela Antena 1 e, principalmente, pela Cidade FM - outra que há muito já partiu dessa para pior, virando rádio de 'roque' de gosto duvidoso e, afinal, transformando-se na Oi FM. Nós, que reivindicamos o direito de proclamar nosso bom gosto musical, um produto que a Nativa FM está longe de oferecer.

E que não venham com a conversa fiada de evolução, que modismos passam e desaparecem e outras bobagens do gênero. Perdemos uma excelente emissora de rádio, sim. E isso é lamentável. Música não tem idade, nem idioma. Precisa apenas tocar a alma de quem a ouve. Só. E tem ficado difícil correr o dial atrás de alguma coisa que satisfaça esse critério.

Faça bom proveito, o senhor Paulo Mello, ex-diretor da Antena 1, dos R$ 8 milhões que a imprensa credita à cifra da venda da emissora para os Associados. Mesmo que o preço dessa transação seja mais um golpe nas boas coisas que o Rio de Janeiro tem a oferecer.


Boas Noites!

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ConCidadão
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