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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Estatística Denorex


Uma conhecida piada define a estatística como sendo igual ao biquíni: mostra tudo, mas esconde o essencial. Pois cada vez mais o uso não criterioso dessa ciência vem levando a interpretações errôneas dos fatos, de modo intencional ou até por ignorância ou ingenuidade - esta última, menos provável. É a disseminação irresponsável do que poderíamos chamar de 'efeito Denorex', em alusão a um xampu anticaspa ainda no mercado, que lançou-se aos consumidores com o slogan 'parece, mas não é', com a ideia de contrapor a aparência (falsa, de remédio) e a essência (verdadeira, de sabão para os cabelos).

Uma matéria sobre estágios no Jornal da Globo de sexta 24 mostrou o renque das carreiras mais procuradas e as bolsas (salários) oferecidas. Após alguns números mostrados, a reportagem asseverou que os estagiários (os rapazes) ganham mais do que as estagiárias, induzindo o raciocínio de que haja alguma discriminação, ao se pagar pelo trabalho de homens e mulheres, estas sendo as prejudicadas. Logo em seguida, contudo, é explicado que isso acontece em virtude da preferência dos jovens do sexo masculino por carreiras (mormente Economia e Engenharia) que pagam bolsas maiores e, em consequência, pela predominância das meninas em cursos cujos estágios pagam menos.

Ou seja: não existe discriminação alguma! Apenas uma manifestação numérica, isenta, de um retrato do que de fato acontece. É exatamente na denúncia de 'afirmações' obtidas por meio do subterfúgio de usar números honestos para expressar a vontade - nem tão honesta assim - de grupos específicos que se calca um excelente livro do jornalista Ali Kamel, diretor da Central Globo de Jornalismo. Em sua obra 'Não somos racistas - uma reação aos que querem nos transformar numa nação bicolor', Kamel denuncia o fomento de um ódio racial sistemático no Brasil, que ele convincentemente defende jamais ter existido entre nós, por meio de políticas de cotas e outros assistencialismos de ocasião. A obra mostra, entre outros estratagemas, a transformação de pretos e pardos em um só grupo, os 'negros', como uma eficaz ferramenta criada para justificar uma prevalência do protecionismo sobre a meritocracia, no intuito de resolver problemas como a Educação de baixa qualidade, o descompasso de renda e a carência de emprego, em especial naquilo que atinge o universo afro-descendente.

A leitura, bastante agradável, mostra como o radicalismo de esquerda, ora no poder, tem se valido de preciosos dados estatísticos oficiais para criar enfrentamentos sem sentido entre grupos da sociedade, ardilosamente selecionados para o papel. Uma radiografia extremamente nítida do totalitarismo político e do patrulhamento ideológico que sempre foram tão caros aos partidos de inspiração socialista-comunista, e com os quais tem sido cada vez mais difícil conviver neste Brasil de início de século.

Parece até vontade de querer construir um país mais justo, mais capaz e mais livre. Mas não é.


Bons Dias!

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ConCidadão
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