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segunda-feira, 7 de abril de 2008

Per$eguição


Papai quase foi pracinha. Trabalhava num quartel em Niterói à época da Segunda Guerra, mas numa longínqua repartição, que jamais fora percebida pelas inspeções encarregadas de escolher aqueles que iriam à Itália defender a pátria. Assim, pode ter ganho sua longevidade em troca de declinar dos louros dos nossos bravos combatentes.

Papai, entretanto, perdeu a chance da sorte grande, pouco mais de duas décadas depois, sem o saber. Não criticou o regime, não apanhou da Polícia, nem foi preso. Nem mesmo pelos indispensáveis 15 minutos de Wahrol. Sequer teve passagem pelo DOPS, o temido Departamento de Ordem Politica e Social do governo militar, vigilante naqueles anos. Deste modo, deixou passar a oportunidade de pleitear indenização de perseguido político, uma das mais sensacionais conquistas da Constituição 'cidadã' de 1988.

Na última semana, perto das comemorações dos 100 anos da Associação Brasileira de Imprensa, a ABI, a notícia foi a concessão de gordas indenizações e pensões vitalícias a duas dezenas de jornalistas e escritores. Dois deles garantiram cada um seu milhão de reais, mais 4 mil e poucos outros reais de aposentadoria. Os próprios meios jornalístico e literário não são unânimes: há quem proteste contra a forma como as reparações vêm sendo feitas, criticando os diferentes pesos utilizados nos cálculos dos valores a serem pagos e as graves distorções cometidas. Compensações que não contemplam como deveriam quem merece e, ao mesmo tempo, estão criando equivocadamente novos ricos. Com dinheiro público, naturalmente.

E, vejam só, houve quem tomasse rumo diferente, improvável, nessa história. Que brigou, mas pela contagem do tempo de seu exílio para a sua aposentadoria de professora universitária, no que obteve sucesso. Ganhou ainda, por tabela, R$ 100 mil de indenização, mas preferiu doar o dinheiro à pesquisa contra o câncer, julgando-se indigna do benefício pecuniário. Um raro exemplo, menos de desprendimento e mais de honestidade, no qual se pensar. Uma prova de que nem tudo no Brasil gravita sob a Lei de Gérson.

É ler os jornais e conferir.

Boas Noites!

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ConCidadão
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sexta-feira, 4 de abril de 2008

Cena nossa, Carioca - quinta-feira, 3 de abril de 2008


A motorista do 217 (ônibus da linha Andaraí - Carioca), número de ordem 71618, fez de tudo para chamar a atenção da cobradora do outro ônibus da mesma linha, o 71507, parado ao lado. Soltar o ar do sistema de freios repetidamente, como uma buzina, foi um dos artifícios tentados, que não funcionou de todo por causa do ar-condicionado. Ambos os veículos aguardavam abrir o sinal da Conde de Bonfim, na esquina com a José Higino.

Por fim, foi um passageiro habitual que viajava em pé, um rapaz negro, alto, de arcada dentária bastante pronunciada, com quem já tive a oportunidade de viajar antes no mesmo trajeto, quem desceu rapidamente para bater no vidro lateral e alertar a outra rodoviária que alguém desejava-lhe a atenção.

Ao se verem, motorista de cá e cobradora de lá, sorrindo de felicidade pelo encontro inusitado, divertiram-se em trocar tantos tchauzinhos quanto permitiu o trânsito pesado daquele final de tarde, na Tijuca.

São dessas coisas bem típicas do jeito carioca de levar a vida, sobretudo com irreverência e alegria.

Bons Dias!

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ConCidadão
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segunda-feira, 31 de março de 2008

Golpe de sorte


Hoje, 31 de março, o movimento militar de 1964 faz aniversário. Há 44 anos, o Brasil começava a ser privado de uma série de liberdades, processo que recrudesceu com o Ato Institucional nº 5, de dezembro de 1968 – editado numa sexta-feira, 13. Começava também, contudo, a ser libertado da possibilidade de transformar-se num país comunista, mudança desejo de tantos "patriotas" que, depois, banidos ou fugidios e repatriados pela anistia ampla, geral e irrestrita, passaram a se autoproclamar injustiçados. Perseguidos, termo que passou a conferir-lhes status político e financeiro. Gente que conseguiu lograr seu sucesso, fazendo valer as suas versões, verdadeiras ou não, do que aconteceu então. A História muitas vezes contada pelas histórias que contam.

Alguns desses contadores de história são hoje expoentes políticos da sociedade. Posam de bons moços, incapazes de violentar um inseto sequer. Nem o mosquito do dengue! Mantêm, esses já não tão moços assim, o discurso da luta pela liberdade, embora cerceiem a dos outros o quanto possam, em nome de uma tal liberdade, desconhecida de todos nós. Vasculham a intimidade alheia, espionando telefones e correspondências eletrônicas. Criam instrumentos de controle, travestidos de conselhos profissionais ou de regulemantações quaisquer, para impedir a livre manifestação que outrora diziam defender. Calam seus opositores a qualquer preço. Ditam modos de pensar e condenam, sumariamente, aqueles que não concordem com eles.

E o pior de tudo: transformam os crimes que cometem em meros "erros", inclusive ao olhos – ceguíssimos – da justiça. Sem falar na compra da dignidade dos menos ou nada esclarecidos com bolsas mil, que desvalorizam o trabalho e prestigiam apenas o assistencialismo conveniente, conivente.

Boas Tardes!

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ConCidadão
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quinta-feira, 27 de março de 2008

Democrática ditadura


Enfim, dão-se as cartas. O presidente da República, com sua sinceridade comovente (ou com a arrogância que igualmente lhe é tão própria), ameaça: "a oposição pode tirar o cavalinho da chuva porque nós vamos fazer a sucessão para continuar governando este país" (O Globo, 27 de março de 2008). A ênfase faz supor, não que o sucessor provenha de um muito esperado sucesso nas urnas, daqui a dois anos, mas sim que a vaga seja ganha na marra, no tapetão. De um jeito ainda indefinido, porém com resultado certo. Assim como os militares arbitravam – a seu bel-prazer – a quem caberia o governo, três décadas atrás.

Trata-se de um fato grave. Pelo qual, contudo, já se podia esperar. Afinal, a cooptação da população humilde através do programa Bolsa Família, que passou a admitir menores de até 17 anos, que votam, trabalha a favor. Colabora, também, o aliciamento de jovens universitários, cuja opinião crítica sofre grande influência no ambiente acadêmico: sempre está na moda pensar na linha dita socialista, que convida a aceitar as pregações de esquerda como verdades absolutas. Além do que quem está na moda está bem com os amigos e as paqueras. E assim, a banda toca.

O Petê, cuja máscara de bom moço vem caindo com os escândalos do mensalão, dos bingos, dos cartões corporativos e tantos outros que não tive espaço para listar, afronta o Brasil. O Brasil do líder que sempre se esquiva de pronunciar seu nome – "este país" é a forma preferida de referência. Mas, curiosamente, "este país" parece anestesiado, porque não reage aos desmandos, às falcatruas, aos crimes e à absoluta falta de desvelo para consigo mesmo. E concede a Sua Excelência patamares inimagináveis de popularidade, dos quais convém duvidar. Por que será?


É hora de agir.

Boas Noites!

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ConCidadão
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Bem-vindos!


Olá! Bem-vindos ao meu blogue, se me permitem o aportuguesamento – pois, como bem sabemos, não há palavras terminadas em 'g' em Português, o que me inspira e provoca o neologismo.

Cheguei para falar um pouco de tudo: cotidiano, política, futebol, religião... E, mais do que qualquer coisa, para fazer algo de que gosto imensamente: escrever.

Entrem e fiquem à vontade!

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ConCidadão
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