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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Etiqueta e rótulo

  
Tempos modernos. Hoje, na ante-sala da dentista, folheei meio sem interesse uma revista Quem, a Caras da Editora Globo. Uma edição qualquer, de cuja capa nem me lembro mais. Só que, invariavelmente, eu vou na certa.

Chamou a minha atenção o início de uma matéria, na qual se falava de uma criança. Dizia o texto: 'fulano, "filho biológico" de beltrano e sicrana...' Filho biológico! Uma especificação que o politicamente correto parece recomendar hoje em dia, em meio a adoções, barrigas de aluguel, arrendamento de úteros, cessão de espermatozóides e outras formas heterodoxas de concepção, segundo os preceitos da Medicina e da Administração de Negócios.

Soa a falta de etiqueta. No meu tempo, que é o tempo de tanta gente mais, filho era filho. E pronto. Até que fosse um filho da... Mas era filho. Sem a necessidade da lógica do rótulo: biológico, fisiológico ou coisa assim.

Modernos e estranhos tempos.


Boas Noites!

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ConCidadão
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sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Casos, literalmente, de Polícia

  
Esta semana, dois fatos policiais vão deixar registro. Cada um com uma das nossas Polícias (que continuam sendo duas, dissociadas em suas estruturas e comandos, num modelo que parece só existir no Brasil e cuja essência não se consegue compreender nem aceitar). Ontem, quinta 15, pegou fogo a Delegacia de Repressão a Crimes de Propriedade Imaterial (DRCPIM) em São Cristóvão, o que levou à destruição de vasto estoque de produtos piratas estocados. Com a expansão do incêndio, contudo, foram-se também arquivos de duas outras especializadas: a Delegacia de Defesa de Serviços Delegados (DDSD) e a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA); entre eles, podem estar partes do inquérito que invetiga os ataques aos trens suburbanos, ocorridos ha quase 10 dias. A causa provável do sinistro é um curto-circuito, como de hábito em instalações elétricas malconservadas, mas conta-se com a possibilidade de incêndio criminoso - ou fogo posto, como prefeririam os portugueses.

Criminoso como o ataque à cabine da PM na Praia de Botafogo, na noite do feriado de Nossa Senhora Aparecida (segunda 12), em que o policial de plantão teve a sua arma roubada por ladrões que fugiram de carro. Cabine que já foi alvo de tiros disparados por cinco bandidos, em dezembro de 2006, episódio que rendeu a morte de uma ambulante e ferimentos no policial que prestava serviço.

Aliás, criminoso é também o abandono em que se encontra o prédio da Polícia Civil, na esquina das ruas da Relação e Inválidos, no Centro. Às vésperas do último feriadão e com toda a chuva que desceu no Rio, a sala de guarda de armas e munições ficou simplemente alagada, quase impenetrável. E não somente ela: buracos por todo o telhado fizeram com que chovesse praticamente dentro de todo o edifício, que vem apresentando rachaduras cada vez mais proeminentes e assustadoras. Fruto do descaso com o patrimônio público e, seguramente, por influência da obra de construção dos três blocos comerciais de grande porte, na outra calçada da Inválidos, que vêm causando inclusive a suspensão do abastecimento de água da Polícia. A Defesa Civil, alertada através de chamada dirigida ao Disque-Denúncia, diz que só pode agir – interditar o local, afinal – com autorização do delegado responsável. Mesmo que, não sendo autorizada, persista pairando ameaça constante às vidas daqueles que trabalham (e permanecerão trabalhando, até segunda ordem) no edifício.

Quem a gente chama numa confusão dessas?


Por Deus, sem dúvida. Mas talvez uma ambulância e uma camisa de força já consigam começar a dar ordem nas coisas.

Bons Dias!

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ConCidadão
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quinta-feira, 18 de junho de 2009

Oba! Somos todos jornalistas

  
O Supremo Tribunal Federal derrubou ontem, por 7 votos a um, a obrigatoriedade do diploma de curso universitário para o ofício de jornalista. Segundo os ministros relatores favoráveis à extinção, a exigência seria inconstitucional – mais do que ilegal – por ferir o preceito da liberdade de expressão previsto no inciso IX do artigo 5º da Carta Magna brasileira, que diz ser 'livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença'. Pois é exatamente dentro deste mesmo preceito que comento aqui a notícia.

Na opinião dos magistrados, o exercício do jornalismo basicamente não exigiria muito mais do que o pendor para a escrita, tal como acontece com aqueles que querem ser escritores, tendo sido lembrados inclusive diversos deles atuantes como jornalistas. Foi dito que a formação universitária deveria restringir-se a atividades cujo desempeho requeresse conhecimentos técnicos de maior peso, nitidamente o caso da Medicina. Falou-se dos casos de países onde a faculdade de Jornalismo não é exigida (EUA entre eles), sem a percepção de que apenas os bons exemplos a gente deve copiar. E, de quebra, na prática, a corte suprema acabou estabelecendo uma perniciosa associação entre a revogação da Lei de Imprensa (bem vista pelo meio) e a queda da obrigatoriedade do certificado de curso superior (pelo contrário), eventos jurídicos recentes que remetem a dois fatos da época dos governos militares pós-1964 – um fantasma que vem sendo recorrentemente avistado.

Contudo, a supressão da exigência do curso superior constitui uma involução. Há 40 anos a formação universitária em Jornalismo existe e tem por objetivo talhar profissionais qualificados. A universidade nos abre horizontes no espírito; os magistrados bem podem testemuhar isso, já que viveram para contar. Hoje em dia, outras profissões estão deixando a formação de nível técnico e buscando aperfeiçoameto em cursos de nível superior, como são os casos do Técnico em Transações Imobiliárias (a faculdade dos corretores de imóveis) e do Turismólogo. É a busca pelo melhor exercício da profissão. E o Jornalismo começa a dar marcha-a-ré, graças à providência do STF.

Em tempos de blogues, smartphones, YouTube e outras formas de expressão tão rápidas quanto eficazes, ninguém precisa ser mesmo jornalista para manifestar-se como cidadão. Basta ter vontade para fazer-se ler, ouvir e ver. Mas então, por que minar a importâcia do trabalho especificamente jornalístico já consagrado, privando a classe do respeito profissional com a punga de sua conquista? Abrir o mercado do Jornalismo a qualquer pessoa não aumenta nem restabelece a liberdade de expressão: ela está aí, sendo exercida por todos. Inclusive por mim, nesta coluna.

A própria imprensa não se manifestou de modo mais intenso a respeito, pelo que eu pude perceber dos noticiários afins. Críticas e repúdio ao fato, é claro, mas nada espalhafatoso demais. A ABI pronunciou-se em sua página eletrônica, incluindo mensagem do presidente da entidade na qual ele manifesta a esperança de que o Poder Legislativo restabeleça a condição anterior. As empresas jornalísticas, por sua vez e segundo a análise de especialistas, devem manter a opção de contratar profissionais diplomados, tendo nisso um óbvio critério seletivo. O que é natural.

Aliás, a atividade na mídia jornalística nunca esteve restrita a jornalistas: sempre houve os colaboradores, comentaristas, analistas e outros tantos, profissionais das mais diversas searas que não respiram a redação em tempo integral mas fazem seu excelente trabalho. Complemetar e enriquecedor; jamais coadjuvante. E talvez nisso resida a brecha que culminou com a derrubada do diploma: o excesso de personalidades súbitas, de apresetação estética irrepreensível porém de bagagem intelectual nem tanto, que, de repente, estão na televisão e no rádio, apresentando programas de cunho eminentemente jornalístico. Dirão, pois, o telespectador e o ouvinte: desse jeito, qualquer um pode ser jornalista!

É. Agora, pode.


Bons Dias!

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ConCidadão
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segunda-feira, 1 de junho de 2009

Mais do que um minuto de silêncio

  
Acabou. Pontualmente à meia noite, apenas alguns minutos atrás, a rádio Antena 1 do Rio de Janeiro (103,7 MHz), saiu do ar pela derradeira vez. Há muito tempo, a maioria das emissoras saía do ar na alta madrugada, entre as 2 e as 6 horas da manhã. Depois, passaram quase todas a transmitir 24 horas, sem locução nesse período. Mas hoje, a Antena 1 estava marcada para mais do que simplesmente sair do ar: para o desalento de uma expressiva legião de cariocas de bom gosto musical, ela infelizmente morreu. O FM carioca ficou mais pobre, bem mais pobre, neste também último dia de maio, um domingo.

Na última sequência de músicas, K-Jee (MFSB), I love America (Patrick Juvet), Dancing Days (Frenéticas) e Stars on 45 (Beatles, long version), que encerrou as transmissões. Sobre uma vinheta da emissora, em seguida, a locutora Nayara Alves falou do coração batendo mais forte e da magia de 28 anos no ar, ao agradecer a ouvintes mundo afora, que mandaram mensagens e telefonemas relacionados ao fim das atividades da rádio. E informou que a Antena 1 Rio permanece no ar, porém somente na rede mundial de computadores.

Engraçado como uma concessão do governo federal pode transitar tão livremente assim, duma forma meramente comercial. Sim, porque canais de rádio não se abrem ao bel-prazer de alguém; são outorgados pelo Ministério das Comunicações, segundo critérios que deveriam ser técnicos. Pode parecer até a defesa de certa censura aos estilos das emissoras, mas é apenas um desabafo contra a violenta tomada de mercado por rádios cada vez piores, em termos de qualidade de programação. Não se pode negociar uma emissora como se passa adiante uma barraca de cachorro quente. Uma rádio envolve aspectos importantes, seja pela produção envolvida - rádios ditam moda e são veículos divulgadores e propulsores de músicas, artistas e atividades culturais - seja pelas pessoas que vivem diretamente de mantê-la no ar.

A frequência de 103,7 MHz está sendo assumida pela Nativa, que deixa a vaga nos 96,5 MHz - da saudosa Tupi FM, 'estéreo espetacular' - para o que os Diários Associados estão chamando de 'uma revolução no rádio carioca': a Super Rádio Tupi, tradicional emissora AM (1280 kHz), passa a contar com retransmissão também em FM, nos 96,5 MHz, a exemplo do que já faz, no Rio, a CBN (860 kHz e 92,5 MHz, que um dia já foram, respectivamente, a Rádio Mundial e a Globo FM, todas do Sistema Globo).

Com o fim da Antena 1, ganham a JB FM (99,7 MHz), líder atual do segmento adulto carioca e que, prevê-se, deve se beneficiar para consolidar a posição, e a Paradiso (95,7 MHz), as últimas FMs que mantêm esse estilo musical. Os únicos baluartes que ainda nos restam, nós de entre 30 e muitos e 50 e poucos anos, de adolescência e juventude vividas ao som das discotecas, reverberado pela Antena 1 e, principalmente, pela Cidade FM - outra que há muito já partiu dessa para pior, virando rádio de 'roque' de gosto duvidoso e, afinal, transformando-se na Oi FM. Nós, que reivindicamos o direito de proclamar nosso bom gosto musical, um produto que a Nativa FM está longe de oferecer.

E que não venham com a conversa fiada de evolução, que modismos passam e desaparecem e outras bobagens do gênero. Perdemos uma excelente emissora de rádio, sim. E isso é lamentável. Música não tem idade, nem idioma. Precisa apenas tocar a alma de quem a ouve. Só. E tem ficado difícil correr o dial atrás de alguma coisa que satisfaça esse critério.

Faça bom proveito, o senhor Paulo Mello, ex-diretor da Antena 1, dos R$ 8 milhões que a imprensa credita à cifra da venda da emissora para os Associados. Mesmo que o preço dessa transação seja mais um golpe nas boas coisas que o Rio de Janeiro tem a oferecer.


Boas Noites!

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sábado, 16 de maio de 2009

Aroma de naftalina


O telejornal Bom Dia Brasil de quinta-feira passada (14 de maio) mostrou uma reportagem sobre a Ponte Presidente Costa e Silva, popularmente tratada como Rio – Niterói, por conta dos seus 35 anos de inaugurada. Homenagem bem-vinda, embora atrasada, considerando o aniversário ter ocorrido em março. Boa matéria, com uma visão interessante do dia-a-dia operacional da rodovia – a ponte é parte da federal BR-101 – e contando um pouco da história da construção.

Mas, no final, veio o retoque mal dado. Aquela coisa que se diz quando não há mais o que dizer, o assunto se esgota e o silêncio seria o mais indicado. A repórter Mônica Sanches que, além de gravar a matéria aparecia ao vivo, direto, dando conta da importância da ponte como escoadouro do fluxo de pessoas que moram em Niterói e trabalham no Rio de Janeiro, sacou do fundo de uma empoeirada cartola um inoportuno e desnecessário comentário, sobre ser a obra um ícone do governo militar pós-1964 – já que foi feita entre 1968 e 1974.

Conta ela que jamais se soube exatamente o custo real da ponte e quantos operários teriam morrido durante a sua construção. Como se pusesse em dúvida, talvez e não tão veladamente assim, a lisura do orçamento e da contabilidade da época; e suscitasse, para quem preferisse entender deste modo, o canteiro de obras como local de sumiço de desafetos do regime. Nada dito abertamente, porém ostensivamente sugerido.

Ainda estou procurando em que contexto o derradeiro comentário da jornalista se encaixa. Malgrado meu grande esforço, ainda não achei. Provavelmente o fundo da cartola seja falso e não haja mesmo o que encontrar.



Boas Tardes!

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quarta-feira, 13 de maio de 2009

Vou-me já, que já está pingando


Atento aos fatos que são notícia no Brasil e no mundo e imbuído de seu espírito formador de opinião, o Jornal Nacional surpreendeu ontem (12 de maio) em sua preocupação com a conservação dos recursos naturais. Mais do que um olhar apenas para o meio ambiente, um para o ambiente inteiro, se é que isso é possível.

Entre uma visita do Papa Bento XVI à Terra Santa, uma impressionante demonstração de confiança na vida do combalido vice-presidente José Alencar e uma fraude fiscal que permitiu à Petrobrás uma economia de R$ 4 bilhões em impostos não recolhidos, William Bernardes e Fátima Bonner, no melhor estilo Globo Repórter, falam das vantagens ambientais de... Fazer-se xixi durante o banho, sem o desperdício da água que jorra abundante pelos vasos sanitários, país afora.

Relevante matéria para informação de toda a família, educando, em plena hora do jantar, mais de 100 milhões de urinandos brasileiros.



Boas Tardes!

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domingo, 29 de março de 2009

São as lágrimas de março fechando o verão


Março vai chegando ao fim e, até o domingo 29, já são três os sepultamentos a que eu fui. Um deles, hoje. Mês carregado! Sinto como se já tivesse esgotado a cota para 2009, considerando a média dos anos anteriores - jornalistas gostam de fazem esse tipo de estatística e eu, com formação na área e mesmo não exercendo profissionalmente o ofício, permito-me explorar o padrão. Cemitérios não muito diferentes uns dos outros, com os indefectíveis cachorros abandonados que, curiosamente, estão sempre a lhes rondar as alamedas. E uma impressionante sensação de paz - não tristeza, mas paz - que me toma o coração, a cada vez que neles entro.

Mas o mês teve, é lógico, as suas compensações: os aniversários. Vários amigos sopraram velinhas este mês e, no sábado, foi a vez de uma minha avó emprestada, que completou 95 anos. Gente a rodo num concorrido almoço em Botafogo, que foi homenagear alguém especial, querida por todos. Um ambiente perfeito, rico em alto astral, onde eu tive a felicidade de rever tantos amigos de infância, a quem não via há décadas, literalmente. Momentos de Felicidade que é preciso cultuar, para se levar a vida e levá-la a tão longe.

Emoções tão distintas, capazes de nos tocar com a mesma profundidade e também de reunir com eficiência um número apreciável de parentes e amigos. Ora, somos seres humanos e, como tal, vivemos com emoção e, por que não, de emoções. Um brinde a elas, que nos enfeitam a vida e nos fazem melhores, ensinando lições agradáveis ou não, porém preciosas, sempre.

E, se for preciso chorar, que seja de Felicidade. O que muito acontece comigo, por sinal: acho que já verti mais lágrimas na vida estando alegre e emocionado do que triste. Tem textos que eu escrevi, garanto, que não consigo ler, mesmo silenciosamente, sem ficar com os olhos molhados. Não é bom?

E, pois, que venha abril, na quarta-feira!


Boas Noites!

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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

No tempo dos lotações


O Rio de Janeiro vive um surto de involução tecnológica no sistema de transporte por ônibus, que tem contribuído para a piora da mobilidade e, em consequência, da qualidade de vida da cidade. Veículos inadequados, embora em sua maioria novos, perfazendo itinerários que já não correspondem às linhas de desejo da população usuária, operados segundo quadros de horário superados, com gestores alheios à necessidade da qualidade de serviço – a satisfação do passageiro – e tripulação mal treinada, oferecendo um atendimento aquém do minimamente decente. Caos total, enfim.

A maior parte das maravilhas apresentadas nas feiras promovidas pelas entidades patronais – Fetranspor e Rio Ônibus – têm-se restringido aos estandes montados na Marina da Glória, a cada 2 anos, mesma frequência com que é lembrado o surrado discurso dos corredores de tráfego, tão necessários, sistematicamente cobrados do governo e jamais construídos. Fica aí consolidado um ‘efeito Tostines’ desastroso: o poder público não melhora o sistema viário e o empresariado não investe em ônibus mais modernos porque não quer vê-los destruídos precocemente pelas ruas calejadas.

É nesse cenário que, então, ressurgiu recentemente um velho conhecido de quase meio século dos cariocas: o lotação. De aspecto mais moderno, com nome novo (micrão), alguns até com ar condicionado, mas basicamente com a mesma filosofia operacional: veículo pequeno, sem cobrador. Espalharam-se como verdadeiras pragas, na ânsia de vencer a competição com o transporte dito ‘alternativo’, tentando usar a agilidade de seu tamanho reduzido para imiscuir-se melhor no mar de carros que ele mesmo, o micrão, ajuda a engrossar.

A preferência das empresas tem uma razão óbvia: custo operacional menor, já que poupa-se um profissional por carro e ainda paga-se menos ao que sobra nele – o motorista 'júnior', como é classificado o que dirige micrão, supre função dupla e tem salário menor do que aquele que opera o veículo convencional, com cobrador.

Para o sistema, contudo, a troca tem sérios senões, ao que parece ainda pouco perceptíveis à sensibilidade das autoridades de transporte. Para uma mesma demanda de passageiros, são necessários mais veículos, aumentando a ocupação do espaço viário. Além disso, o micrão tem velocidade operacional notadamente mais baixa, já que – em princípio – fica parado enquanto o motorista recebe a passagem e dá troco. E, quando não se detém no ponto, é um fator grave de insegurança no trânsito, com um motorista dirigindo com um olho na via e outro na gaveta do dinheiro, já que nem todos os passageiros dispõem de cartão eletrônico de transporte (RioCard).

A incrível subversão do modelo estrutural do transporte carioca vem se consolidando, sem que uma providência radical, de reorganização do sistema, seja tomada. Furgões de passageiros (as vans, no termo que já se consagrou em português) e ônibus de pequeno porte estão atuando em corredores tipicamente troncais, perfazendo linhas de alta demanda de passageiros e maior quilometragem. Uma função nobre, que deveria caber não a eles, mas a ônibus articulados e biarticulados, de portas largas, motor traseiro ou sob o piso, suspensão pneumática e ar condicionado, operando em corredores segregados do tráfego comum. Com pontos de parada exclusivos e convenientemente espaçados ao longo do itinerário, nos quais o viajante tenha o conforto de pagar fora do veículo por um bilhete integrado e permanecer abrigado de sol e chuva à sua espera, embarcando praticamente em nível com o piso interno do ônibus.

Não obstante, os investimentos prometidos para a melhoria da rede de transportes continuam no plano das ideias. A realização dos Jogos Pan-Americanos, em 2007, seria um forte argumento de pressão para que grandes obras viárias saíssem do papel. Mas não funcionou. O corredor T5, ligando a Barra da Tijuca à Penha, por exemplo, não vingou. Nem as linhas de metrô para a Barra e os aeroportos Tom Jobim e Santos-Dumont. Nem a duplicação da Autoestrada Lagoa – Barra. A esperança, agora, é a Copa do Mundo de 2014, daqui a apenas cinco anos. E, quem sabe, os Jogos Olímpicos de 2016, logo em seguida.

As vans, embora de início clandestinas, surgiram como opção ao transporte de péssima qualidade oferecido pelos ônibus. Tinham motoristas atenciosos, muitos deles profissionais liberais recém-demitidos da iniciativa privada, que investiam suas economias num veículo. Tinham ar condicionado e música ambiente, itinerário ligeiramente flexível, segundo o desejo de destino dos passageiros, e tarifa menor do que a dos frescões. Foi por causa dessa nova modalidade que o sistema de ônibus, em geral, viu-se obrigado a melhorar o padrão de atendimento. Porém o padrão das vans também caiu: a prefeitura admitiu a proliferação indiscriminada de veículos de todo tipo, sem padronização, permitindo ainda a expansão dos ‘cabritinhos’ (Kombis que eram restritas a serviços em favelas) e acabamos na verdadeira selva que impera no dia a dia carioca.

Quando me perguntam como se chama o cliente do sistema de transporte por ônibus do Rio eu respondo: refém. Porque se vê submisso, à mercê da vontade dos operadores; por ser subjugado no que deveria ser o seu direito ao conforto e à confiabilidade; por não ter, na prática, a quem recorrer.

O caos está instalado, a cidade perde enormemente com isso, os discursos ecoam aqui e ali, projetos se dizem estar germinando em um e outro gabinetes e... E nada. O horizonte não traz soluções, nem sequer um alento. Continuamos esperando: uma atitude ou um milagre.

Novas iniciativas são urgentes para tirar a cidade do marasmo do atual sistema de ônibus que chega a operar a velocidades médias menores do que 20 km/h até fora dos horários de ponta. Corredores de tráfego que atendam aos deslocamentos que verdadeiramente acontecem, nos quais veículos tão confortáveis quanto ágeis sejam capazes de tornar o ir e vir simples, a ponto de uma viagem mais longa não se tornar mais cara e não servir de pretexto para inibir a contratação de um profissional que more afastado de seu trabalho. Uma reordenação tão valiosa que contribua para repaginar o espaço urbano como um todo, permitindo a desfavelização do Rio de Janeiro por intermédio de reassentamentos em novos bairros mais afastados da região central, sem que isto represente uma segregação, mas, ao contrário, faça com que a iniciativa seja em verdade um investimento na qualidade de vida de todos, indiscriminadamente.



Boas Tardes!

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sábado, 24 de janeiro de 2009

Levanta, Flamengo!


(carta mandada ao Clube de Regatas do Flamengo, por correio eletrônico)

Na falta de um endereço eletrônico específico rastreável - uma falha de comunicação imperdoável - dentro do portal eletrônico do Flamengo, decidi enviar esta mensagem àqueles que iam aparecendo, à medida que eu vasculhava o sítio. Nem a diretoria, nem a assessoria de imprensa têm (ou divulgam, pelo menos) contatos via internet, para o alcance do torcedor ou admirador do clube. Mas sou persistente e, assim, resolvi expor a minha crítica, que vai por cópia também a amigos e outros contatos meus.

Como torcedor e membro de uma família que também torce toda pelo Flamengo, não posso deixar de protestar com relação à aparição (a palavra é essa mesmo, que remete a fantasmas, espíritos e afins) do presidente do clube, baixando a cabeça ao declarar que não há dotação financeira para manter Diego Hypólito, Daniele Hypólito e Jade Barbosa na equipe de atletas. E que, desta forma, praticamente os convida a sair do Flamengo e buscar melhor sorte em outro lugar. Fico pensando numa situação dessas no futebol...

Muito bonito seria falar do amor à camisa, como se houvesse, da parte deles, a obrigação de permanecer, em seu nome, sem que se voltem os olhos para o desperdício de recursos que se promove em outras frentes, em nome de interesses que podem não ser o que é realmente importante para o Fla. Onde está o esforço que os dirigentes deveriam fazer pela construção do complexo - necessário em muito - de Vargem Grande, o Ninho do Urubu, que se resume a um casebre maltratado e a campos de pelada? E a remodelação da sede da Gávea, com ou sem shopping? E a difusão da marca Flamengo, com a amplitude que ela merece, do modo como um outro rubro-negro já soube promover, apesar de não ter a mesma grandeza que temos?

'Os dirigentes passam, os atletas ficam.' A frase, proferida com justa mágoa por Diego Hypólito em uma entrevista coletiva, externa mais do que decepção ou revolta. Põe a nu toda uma série de desmandos administrativos, gestões fraudulentas e trato incompetente para com os interesses do Flamengo. O clube mais destacado do Brasil, o de maior torcida no mundo, referência incontestável de admiração e prestígio até entre seus adversários, agoniza numa crise que parece não ter fim. Dentre os episódios deploráveis, só para lembrar um passado não muito recente, tento contabilizar quantas vezes Romário foi vendido, comprado, cedido, emprestado, numa sucessão de embustes a que os torcedores assistimos, pasmos. Não consigo contar.

De nada adianta bater no peito - vazio - e bradar fatos e estatísticas, como as que constam no documento 'Colocando os Pingos nos Is - a força da marca Flamengo', acessível no portal, se não existe competência para ostentar essa magnitude? Porque não há mesmo. Digo isto condoído com o que vem sendo feito com o clube, sem que qualquer providência se veja tomada no sentido de dignificar novamente a instituição, com toda a força da palavra, que é o Flamengo.

Queremos, torcedores que respeitamos e admiramos o Clube de Regatas do Flamengo, que aqueles que conduzem administrativamente o seu destino saibam também respeitá-lo e admirá-lo. Que vistam a camisa de fato e honrem seus salários e seus feitos pelo vermelho-e-preto.

Que possam dizer a si mesmos e a todos, sem vacilar, que uma vez Flamengo, Flamengo até morrer.



Boas Tardes!

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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Querida, soltei os bandidos!


Assaltos cinematográficos foram cometidos em São Paulo nos últimos dias e a Polícia desconfia dos indultados que não retornaram aos presídios depois das Festas. Aliás, ex-indultados: os novos foragidos da justiça. E agora?

A Lei de Execuções Penais prevê o benefício da saída para a passagem do Natal e do Ano Novo ao preso, respeitado o critério do bom comportamento. Por mais que se possa definir isso tecnicamente, 'bom comportamento' sugere ser algo bastante subjetivo. Então, a concessão do direito deveria incluir, entre outras análises complementares, também o esquadrinhamento do passado do cidadão, por via das dúvidas. Desconfiar é preciso. Ou impingir co-responsabilidade penal ao magistrado que indulta um indivíduo que volta a delinqüir, já que foi por sua ordem que o camarada saiu da cadeia.

Ora, virão os juízes em sua defesa: 'somos escravos da lei; fazemos tão somente o que ela determina' - como se o bom senso não fosse qualidade do ser humano e, em sendo assim, uma característica indispensável a quem detém o poder de decidir sobre a vida alheia.

Ora (de novo), raciocinando em âmbito maior, o não uso do bom senso induz, pois, defender a idéia de se desenvolverem supercomputadores capazes de absorver toda a legislação do mundo, de modo que supram o trabalho decisório que deveria caber ao juiz. O que faz com que todos os magistrados tornem-se supérfluos, podendo ser aposentados ou demitidos, a bem do serviço público, com a vantagem da economia que poderia advir disso. E mais três, que saltam de imediato aos olhos: computadores não se cansam (não reclamam de excesso de trabalho), não erram (se bem programados) e não se deixam corromper (o que é o mais fantástico). Para que juiz, se o componente humano - o bom senso, basicamente - já não demonstra ser necessário?

Claro que há o outro lado da história: há leis mal feitas. Eu diria, em especial dentro do âmbito penal, que às vezes é como se os legisladores trabalhassem com uma espécie de margem de segurança, definindo textos com traços de instinto de autodefesa. Do tipo: 'se eu me vir cometendo tal deslize, quão dura eu gostaria que a lei fosse comigo?'

O que nos leva à última faceta desse emaranhado. A mais triste de todas. Quem nós, cidadãos eleitores, temos indicado como nossos representantes no parlamento? Qual o seu comportamento geral? Por que eles têm se mostrado tão ineficientes na redação de boas normas de vida em sociedade? Por que os temos mantido lá, ou conduzido outros de mesma índole, perpetuando um ciclo vicioso que vem resultando leis cada vez piores e justiça cada vez mais apática?

Ou seja: no frigir dos ovos, a culpa é mesmo nossa.

Boas Tardes!

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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O Grande Irmão ataca novamente


Vem aí mais um campeão de audiência. A frase famosa, que por tantos anos a TV Globo usou para anunciar sua próxima atração, bem que poderia informar a chgada do fenômeno que, mais uma vez, vem preencher o vazio de programação das 'férias' de janeiro, fevereiro e março. Até que 2009 comece na emissora, em abril - mês do seu 44º aniversário.

O Big Brother Brasil já badala na imprensa, à exaustão, sua temporada número 9, tornando-se a versão do programa mais longeva em todo o mundo. As mulheres, o atrativo por excelência oferecido aos telespectadores, surgem aqui e ali, em capas de jornal, fazendo fama antes mesmo do confinamento. E, se já não ficam famosas com essa exposição, logo se o tornarão, num abrir e fechar de... Olhos.

Pedro Bial, chato de galochas, vem aí, mais uma vez, como o maior mestre de cerimônia de rituais de acasalamento do planeta. Um papel que sempre me pareceu aquém do cacife de um repórter que teve o privilégio de testemunhar a queda do Muro de Berlim. Talvez os desígnios da profissão possam lá explicar.

Felizmente existe tevê por assinatura. Nenhuma oitava maravilha do mundo, é verdade, mas o suficiente para preencher a lacuna, com bons documentários nos Discovery Channel, National Geographic e History, ou ainda filmes mil, nas emissoras especializadas.

E olha que até os canais pornô (TV Câmara, TV Senado e TV Justiça) conseguem dar coisa melhor...

Bons Dias!

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