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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A palavra é...


Vivemos hoje em dia, com cada vez maior intensidade, a praga do terminologismo. Esse vocábulo, que por sua vez é um neologismo, uma palavra nova cunhada por mim mesmo, significa a mania de se inventarem palavras ou expressões novas para expressar conceitos que já estão consolidados na mente de todos, com termos já tradicionais e de compreensão muito melhor. É uma espécie de reinvenção da roda, poucas vezes com respaldo realmente técnico, mais para a satisfação da vaidade dos inventores.

Por exemplo: quando eu era criança (mesmo sendo isso no século passado, não faz tanto tempo assim), algumas das outras crianças, que eram pobres, eram simplesmente crianças pobres. Simples, não? Pois agora são menores carentes, uma designação aparentemente mais técnica, embora também pobre de humanidade, no sentido da compaixão que a condição naturalmente desperta. Juizado de Menores, aliás, virou Juízo da Infância e da Adolescência, data venia, uma desnecessidade absoluta: infantes (crianças) e adolescentes são os únicos possíveis subconjuntos de 'menores' e desmembrar torna-se inútil. Ademais, verdade que são duas raças que não têm 'juízo' mesmo...

A propósito dos pobres, ainda, as pessoas na situação de pobreza são agora redefinidas pelo terminologismo da linguagem oficial do Serviço Público como hipossuficientes. A eles, talvez seja menos ofensivo serem chamados, apenas, de pobres. Como no passado. Ofensa, aliás, também passou a ser chamar favela por esse seu nome específico e bem definido. O politicamente correto (ai, minha Santa Paciência, lá vem ele!) é comunidade, palavrinha tão tomada de assalto para esse significado alternativo, a ponto de as pessoas evitarem o termo quando se referem a outras comunidades – como a do condomínio, a da rua, a do trabalho, a do clube – com receio de uma interpretação errada: a de que pertencer a uma comunidade torna o sujeito um favelado.

Registre-se que eu nem dou mais orelhas – a moderna nomenclatura médica aboliu os ouvidos – quando o que querem mudar são as partes do meu corpo. Não aceito que me modifiquem contra a vontade. Mas prefiro ficar por aqui, nesse mérito.

E para encerrar a questão, lembro que, quando não são os aspectos político ou técnico da coisa, é a pomba do marketing que cria esse tipo de monstro terminologista. Hoje em dia, no supermercado, não se compram mais detergente nem sabão em pó: só lava-louças (que, afinal, também é lava-panelas, lava-talheres e lava-tantas-outras-coisas-também) e lava-roupas. Com essa mania das locuções verbais, prefiro nem imaginar como os gênios da mercadologia haverão de chamar 'sabonete íntimo', daqui a alguns anos...

Então, que tal descomplicar, para falar um bom Português?


Boas Tardes!

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ConCidadão
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