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sexta-feira, 14 de maio de 2021

A Abolição passada em branco

A Gazeta de Notícias informa, em sua edição de segunda-feira, 14 de maio de 1888, em destaque, na primeira página. Fato histórico reverenciado por décadas pelas pessoas que prezam a liberdade, a solidariedade e, sobretudo, o respeito pelo semelhante.



Contudo, mais uma vez, desde a ascensão da esquerda no Brasil, o aniversário da Lei Áurea foi premeditadamente esquecido, justo por aqueles que se dizem defensores dos compatriotas que viveram sob o perverso jugo da escravidão. O dito 'movimento negro' tem tentado desconstruir a imagem da Princesa Isabel como sendo a verdadeira responsável por colocar fim à exploração do homem pelo homem, da forma como vigorou por séculos, no país. A narrativa dos grupos ligados a essa causa tenta contrapor Zumbi dos Palmares quase como um semideus, fiel depositário da devoção dos negros como patrono de sua liberdade. Um ledo engano em relação a ele e uma injustiça sem precedentes para com ela.

Nossa sorte é que a História é documentada e, graças a isso, resiste ao revisionismo inconsequente. Ainda que devamos temer a doutrinação daqueles que têm - e terão - por função ajudar a preservá-la, aos quais se oferece - ou se impõe - a tentação de fraudar os fatos.

Zumbi tinha escravos a lhe servir, enquanto a Família Imperial tinha os negros que trabalhavam para si como empregados, que recebiam salário e tinham tratamento digno. A própria filha do Imperador cuidava de arregimentar fundos para a compra de cartas de alforria. E o evento de 13 de maio de 1888 tem menos a ver com uma suposta pressão dos ingleses para a abolição (e, ainda assim, não porque prezassem os direitos dos escravos, mas porque tinham necessidade de tê-los com renda para criar mercado consumidor), do que com a disposição da Corte de, gradativamente, encerrar o deplorável capítulo da escravatura.

Se falhas houve nesse processo, que o possam ter tornado longo demais, mérito também houve, da parte dos que empreenderam esforços e recursos para que a escravidão acabasse. E é ele que deve prevalecer, no julgamento histórico que se faz com um mínimo de bom senso e boa vontade.

O título que dei ao texto foi um jogo de palavras calculado. Os incitadores da revolta permanente de negros contra as outras etnias, em especial os brancos, descendentes de europeus, gostam muito de marcar adjetivos que aludam a preto ou negro como algo necessariamente demeritório à etnia negra. Ignorando aspectos como preto ser ausência de luz e, por isso mesmo, remeter a trevas, uma circunstância difícil que nos impede de enxergar.

Pois então aí está, para regozijo dos mimizentos, uma ocasião em que é o branco que é desmerecido: 'passar em branco' é o mesmo que não ser lembrado, ser ignorado, ser desprezado. É exatamente o que aqueles que se dizem solidários à causa negra vêm fazendo com uma pessoa que, desde o início de sua vida pública, no que lhe cabia, fez tanto por ela.

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